Posts Tagged ‘politiquices’

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a grama do vizinho é sempre mais verde (ou é dos importados que eles gostam mais)

junho 19, 2009

Se tem uma coisa que eu nunca vou entender, nem respeitar, são as pessoas que veem revoluções, greves, marchas, protestos e etc. na TV e acham bonito porque é lá fora.

Aqui, quando as pessoas saem às ruas, o olhar torto e enviesado é o primeiro a aparecer. Greve não pode. Paralisação não pode. Marcha na Paulista não pode. Ato na Assembleia Legislativa não pode. Não pode, não pode, não pode. A opinião não é geral, mas é generalizada. E quando a vida se pacifica, a primeira coisa que você ouve nas “conversas de bar” é: o problema desse país é que a gente não tem cultura política.

A sentença, além de homogeneizar os já não sei quantos milhões de habitantes deste país em um só tipo de comportamento (o apolítico), leva ao conformismo. Como se nada pudesse ser feito porque não há forças sociais existentes ou suficientes para protestar contra isso ou aquilo. O uso inverso da sentença (lá fora as coisas funcionam porque eles têm cultura política) nos revela o problema: por acaso as greves e os protestos de rua na França contra as reformas do Sarkozy, por exemplo, foram consensuais? É como se as barricadas de 1968 desmentissem o seu nome e dissessem: aqui não há conflito.

Política é conflito (de ideias, de opiniões). É queda-de-braço. É tentar convencer o outro a rever sua posição e sua compreensão sobre o mundo. Política é disputa de poder. Se vivemos em uma sociedade em que uns mandam mais e outros menos – e em que o Estado tem o monopólio da força – como tentar convencer o outro a rever seu posicionamento? Manifestando seu desconforto, não?

Se lá fora isso vale e é bonito de ser ver, não entendo porque aqui não pode ser. O princípio do protesto é a existência de posições em desacordo. E isso também vale para o nosso país. Essa ideia de que nossa sociedade é apolítica, acrítica e que só se reúne em massa em bloco de carnaval é falsa e injusta. Assim, fica fácil ter uma verdade pronta pra encerrar uma conversa de elevador – “é por isso que esse país não vai pra frente” -, chegar em casa, ligar a TV e ficar feliz porque as pessoas saíram às ruas no Irã para protestar contra uma eleição que consideram ilegítima. Aqui, não tem jeito mesmo. Então, tudo bem o Collor estar de volta à vida política. Tudo bem…

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fora serra e fora suely!

junho 10, 2009

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é muito difícil viver em coletivo, mas mais difícil ainda é ficar calada frente à violência ocorrida ontem na usp. a culpa não é da polícia. é de quem a chamou para dispersar um protesto pacífico e de quem comanda a PM, ou seja, os responsáveis pela praça de guerra dentro da universidade ontem são a reitora Suely Vilela e o governador José Serra. ele, excusou-se das responsabilidades. ela, também.

o fato é que o professorado que compõe a usp lutou, anos atrás, para que a “ocupação” da PM (engraçado como agora as pessoas não usam a palavra invasão, não é?) nunca mais acontecesse. eles estão envergonhados, entristecidos, revoltados e comovidos pelas cenas que assistiram ontem. alguns deles estavam reunidos ontem no vão da FFLCH, onde realizavam uma assembleia, e puderam recordar, de perto, de um tempo em que eram fichados no Dops por panfletar no bandeijão contra a ditadura: receberam uma bomba imoral de presente da polícia. os professores da usp estão em greve. os da unicamp, também. pedem a cabeça da reitora e o fim da invasão da polícia no campus. é pouco. deveriam pedir também a cabeça do governador. a responsabilidade é dos dois. fecharam as negociações e chamaram a polícia. e eu ainda tenho que aguentar o Datena dizendo que estudante não deveria protestar. deveria chamar o governador pra conversar. e ele quis, carapálida?

ps: a foto é do álbum usp sitiada do Picassa, que está registrando a invasão da PM no campus da USP.

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de greves e prozacs

junho 9, 2009

greve é isso: há os que entram em depressão e há os que fazem da tristeza algo propositivo. eu oscilo. vomita-se números, projetos de leis que nos tocam de maneira negativa, histórias de vitórias e de fracassos passados, experiências pessoais nessa ou naquela manifestação/ocupação/etc. disputa-se de quem é a postura mais vanguardista, mais equilibrada, mais conservadora, mais aglutinadora. discorda-se de tudo para concordar depois, com outras palavras. e ninguém, nunca, chega a um acordo. “o dissenso é o coração da democracia”, grita alguém. chovem trocas de acusações, os hormônios pulsam, as vozes se exaltam, o frio chega, o sol se vai e alguém retoma aristóteles para dizer que assembleia só funciona com poucos. com muitos, não dá. aí não dá pra tomar decisão aqui nem ali. mas tem que tomar. e marca-se uma nova data pra discutir o que já foi discutido e decidido, que é para as pessoas terem tempo de repensar e mudar de opinião. serem convencidas. ostensivamente convencidas. criam comitês disso e daquilo pra descentralizar as decisões, mas a gente só pode decidir em assembleia – aquela que não funciona. e a gente protela. protela. protela. e só fica cada vez mais triste, mais impaciente, mais certo de que o futuro é tenebroso. e as pessoas voltam para casa e continuam a trabalhar em silêncio. trocam as assembleias, os fóruns, as reuniões, os comitês, as comissões, as ações diretas, pelo conforto da solidão. porque é difícil, muito difícil, viver em coletivo.

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Paulo Skaf é marxista

abril 23, 2009

Lendo uma tese de doutorado de um economista, eis que encontro essa citação de Marx, o dos furúnculos:

“Desde o século XVIII ressoa o clamor pela redução violenta da taxa de juros, para que o capital a juros se subordine ao capital comercial e industrial, e não inversamente”.

Vai que é sua Skaf!

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bonde da precarização

abril 8, 2009

Acabei de ler que a FOX vai produzir um reality show sobre o desemprego nos EUA. A ideia é que a cada semana os empregados de um pequeno negócio vão escolher alguém pra sair da empresa.

Minha gente! Será que precisa participar de grupos de leitura de sociologia do trabalho pra entender o tamanho da asneira? Os caras pegam uma ideia boa, que é levar a discussão sobre a recessão e suas consequencias à TV, e transformam ela na justificativa das grandes empresas na hora de demitir: cortar gastos. Será que não era a hora de propor outro tipo de formato? Com os trabalhadores enxugando gastos sem enxugar postos de trabalho, diminuindo as margens de lucros dos acionistas, e buscando saídas mais criativas do que a demissão pra driblar a crise? saídas que não responsabilizassem o trabalhador “menos produtivo” ?

Fico até imaginando o tipo de terrorismo que essas pessoas vão viver. O negócio vai ser trabalhar 12h por dia pra mostrar serviço e abrir mão de todos os direitos possíveis pra ficar com emprego. Depois, quando o Costa-Gravas filma “O Corte”, todo mundo acha que aquela história é um delírio da ficção. Não é. Todo dia morrem alguns em algum massacre nos EUA. Fernando Canzian tratou disso aqui e eu não podia ficar mais feliz de ver que alguém observou o padrão entre os massacres e o desemprego. Esse reality show, nessa conjuntura, é um abuso.

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o orkut oficial

abril 1, 2009

O Ministério das Cidades, da Saúde e o Denatran criaram um orkut para conscientizar a população a obedecer as leis do trânsito. Você faz perfil, coloca foto, se  filia a uma das comunidades vigilantes (“segurança”, “velocidade”, “álcool” e “celular”) e se torna um “voluntário do trânsito”.

Sempre defendi a ampliação da participação política da população como uma maneira de melhorarmos nossos problemas, mas não é disso que se trata. A iniciativa, que tem o mérito de conversar com a juventude em uma linguagem que ela entende (oh bama!), resvala nos projetos pró-cidadania roberto marinhinianas no melhor estilo “faça a sua parte”. Não sei o que me incomoda mais nessa história: se o clima de polícia chinesa hipervigilante ou se o princípio “lua de cristal” que embasa a ideia. Tenho pavor das duas coisas.

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Baile da Ilha Fiscal

fevereiro 10, 2009

A taxa de desemprego no Zimbábue está em 94%.  São quase 12,5 milhões de pessoas sem emprego, o que corresponde à soma total da população das duas maiores cidades dos EUA: Nova York e Los Angeles.

Se somarmos a população da terceira maior cidade, Chicago, temos um Zimbábue. Um Zimbábue em que, em Nova York e Los Angeles, ninguém tem trabalho, todo mundo passa fome e morre de cólera. E uma Chicago com disparidades sociais gritantes, a doença, a desgraça e a polícia batendo à porta e com um predisente e seus protegidos bebendo 2 mil garrafas de champanhe, comendo 8 mil lagostas, 4 mil porções de caviar, 3 mil patos e 8 mil caixas de Ferrero Rocher em uma única noite – a da comemoração dos seus 85 anos.

Do extermínio dos zimbabuanos, ninguém fala, se é que já ouviram falar de Robert Mugabe e do Zimbábue. Também não vi ninguém expulsando embaixador do Zimbábue – é, vai ver que o Chávez acha que o Zanu-PF, partido do Mugabe, ainda é um partido socialista e realizou a maior reforma agrária do mundo, que exterminou famílias inteiras de fazendeiros ingleses e repassou a propriedade a membros do partido*. A expulsão de um embaixador, por sinal, quase foi fieta por Mubage no ano passado. Em meio às eleições presidenciais – que não ele não venceu, mas tanto faz -, disse que não toleraria a intromissão dos norte-americanos nos assuntos internos do país. Eles continuam não se intrometendo.

Na matéria da Folha Online, um voluntário internacional que trabalha no país explica que as lagostas vão chegar por avião. E que quem quiser ajudar na crise humanitária pode fazer uma doação de 45 ou 55 mil dólares norte-americanos efetuando um depósito na conta do Zanu-PF, o partido de Mugabe. Legal, né?

Alguém podia descobrir petróleo ou lítio no país. Assim, quem sabe, o exército da salvação não saía do Iraque e aparecia lá, pra barbarizar geral.

* Quem quiser conhecer melhor essa história, indico o livro do jornalista zimbabuano Peter Godwin, que foi um dos melhores que li no ano passado: “Quando um Crocodilo Engole o Sol”.

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realidades e realidades

janeiro 23, 2009

Em março, quando oPME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE vier me consultar, espero virar uma estatística “yes, we can!”, pra aproveitar a obamania. Se não rolar, sei que eles vão me chamar de desocupada (quem não tem emprego, mas procura), e que vou fazer um estágio de vivência em identidade da classe operária. E vou me sentir mais classe ópê do que qualquer estudante de luta jamais conseguiu se sentir. Mesmo com ayahuasca. Só não vou causar mais inveja porque vão descambar pro desdém: “pô, justo ela indo pro lado de lá? Vai desagregar, querendo discutir esse falsos problemas”. E vão gritar bem alto no megafone que agora é hora dos trabalhadores do mundo se unirem e darem um basta a Israel e a tudo isso que está aí. Ainda bem que aqui a crise veio no verão. E que a baixada é logo ali…

em tempo:

roubei do ricardo lombardi.

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Bolsa-Plástica

janeiro 13, 2009

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Vote Dilma!

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espaço público

novembro 16, 2008

politica

A foto é de Adriana Lisboa, em Paris, pelo controvertido Amores Expressos da Cia. das Letras.